Resumo
Desenvolveremos, a partir da correlação de descolonização africana e pensamento indígena brasileiro, a ideia de um lugar de fala indígena enquanto voz-práxis estético-política carnal, vinculada e politizante que tem na descolonização e na descatequização seu núcleo estruturante e dinamizador. O lugar de fala indígena se constitui como uma ficção estético-política em que o grupo-sujeito-corpo-gênero-sexo aparece em sua politicidade, sua mutualidade e sua relacionalidade, nunca em termos raciais (por isso, o lugar de fala não é racializado, racista e exclusivista, mas sim construção e performance estético-político-normativas) e, para as minorias político-culturais, ele se coloca como a base desde a qual efetivamente enfrentam a tríade eurocentrismo-colonialismo-racismo e/como fascismo. Por isso, no caso do lugar de fala indígena (e negro, e feminista, e gay, e transexual etc.), a necessidade de uma voz-práxis direta, autoral, autônoma, autobiográfica, testemunhal, experiencial e mnemônica que visibiliza, politiza e enraíza publicamente às minorias político-culturais desde suas alteridades e a partir de suas experiências de marginalização, exclusão e violência vividas como negatividade, evitando-se sua despersonalização-invisibilização.
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