Resumo
Defendemos, no texto, que a consolidação da democracia universalista e pluralista estruturada como um Estado democrático de direito passa pela superação da ainda forte herança populista fundada na colocação da ideologia como o substrato fundador e dinamizador seja da autocompreensão teórico-partidária, seja do campo do político, seja, ainda, dos próprios adversários políticos. A ideologia, levada à absolutização pelas posições populistas, tem por consequência a autossubsistência, a autossuficiência, a autonomia e a endogenia destas, que passam a se associar diretamente ao universal, recusando qualquer base meta-normativa do campo político e, portanto, negando a diferença política, a crítica e a reflexividade desde fora e desde dentro. Com isso, uma democracia madura recusa qualquer ideia de transformação social calcada no dualismo-maniqueísmo político próprio às posições populistas, o qual vê e afirma a diferença política e as contradições consentâneas como mal absoluto, que deve ser extirpado. As diferenças, como condição para a democracia, exigem auto moderação, reconhecimento, reciprocidade, diálogo, renúncias e consenso, algo que o populismo político evita a todo custo, porque não pode conviver com essas mesmas diferenças e suas contradições, isto é, com alternativas, com pensamento crítico, com interação, com os sujeitos políticos exercendo sua cidadania.
Referências
ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
FORST, Rainer. Contextos da justiça: filosofia políticas para além de liberalismo e comunitarismo. São Paulo: Boitempo, 2010.
HABERMAS, Jürgen. Teoria do agir comunicativo (Vol. I): racionalidade da ação e racionalização social. São Paulo: Martins Fontes, 2012a.
HABERMAS, Jürgen. Teoria do agir comunicativo (Vol. II): sobre a crítica da razão funcionalista. São Paulo: Martins Fontes, 2012b.
HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade (Vol. I). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003a.
HABERMAS, Jürgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade (Vol. II). Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003b.
HABERMAS, Jürgen. A inclusão do outro: estudos de teoria política. São Paulo: Loyola, 2002a.
HABERMAS, Jürgen. O discurso filosófico da modernidade: doze lições. São Paulo: Martins Fontes, 2002b.
HALL, Stuart. “A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo”, Educação e Realidade, v. 22, nº. 2, p. 15-46, 1997.
HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramática moral dos conflitos sociais. São Paulo: Editora 34, 2003.
HONNETH, Axel. Sofrimento de indeterminação: uma reatualização da “Filosofia do Direito” de Hegel. São Paulo: Editora Esfera Pública, 2007a.
HONNETH, Axel. Reificación: un estudio en la teoría del reconocimiento. Buenos Aires: Katz, 2007b.
HONNETH, Axel. “La educación y el espacio público democrático: un capítulo descuidado en la filosofía política”, isegoría, nº. 49, 2013, p. 377-395.
KRENAK, Ailton. Ailton Krenak. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2017 (Coleção Tembetá).
MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. Lisboa: Antígona, 2014.
RANCIÈRE, Jacques. O ódio à democracia. São Paulo: Boitempo, 2014.
RAWLS, John. Uma teoria da justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2000a.
RAWLS, John. Justiça e democracia. São Paulo: Martins Fontes, 2000b.
RAWLS, John. O liberalismo político. São Paulo: Ática, 2000c.
RAWLS, John. Justiça como equidade: uma reformulação. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
RORTY, Richard. A filosofia e o espelho da natureza. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.
TAYLOR, Charles. Argumentos filosóficos. São Paulo: Edições Loyola, 2014.
VATTIMO, Gianni. Adeus à verdade. Petrópolis: Vozes, 2009.

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Copyright (c) 2025 Synesis (ISSN 1984-6754)
