ESTRATÉGIAS PÓS-SECULARES DA INTERAÇÃO ENTRE TEOLOGIA E FILOSOFIA

Resumo

No pensamento cristão contemporâneo, a demarcação entre filosofia e teologia está a corroer-se no modo dinâmico, contrariamente aos esforços do pensamento secular. Esse processo corresponde às principais estratégias metafísicas e pós-metafísicas do desenvolvimento do pensamento filosófico e teológico contemporâneos. Na nossa opinião, todas as formas conhecidas de diálogo entre filosofia e teologia são condicionadas pelo seu profundo parentesco interno de um lado e pela sua diferença qualitativa de outro lado. A possibilidade fundamental de influência mútua entre filosofia e teologia é condicionada pela sua estrutura semelhante, a presença de formas narrativas de pensamento, axiomática básica, um conjunto de teorias e práticas que expressam a aspiração de existência na Verdade. Da mesma forma, elas não são formas empíricas de conhecimento e pressupõem generalizações teóricas e simbólicas para as suas teorias. São dois discursos não triviais de paradoxo aberto, situados na fronteira do incompreensível. São ambas as teorias de valor, que estão relacionadas pela sua capacidade de assumir as formas de vários fenômenos culturais. A teologia e a filosofia são semelhantes em compartilhar uma experiência fenomenológica de fé e conhecimento do absoluto. Sua unidade pode ser traçada no nível metodológico, em que a filosofia atua como base reflexiva e autocompreensão da teologia. O teólogo realiza um trabalho filosófico toda vez que tenta realizar suas próprias intuições iniciais e a visão geral de mundo e os princípios teóricos da sua teologia. Na teologia, o uso de várias estratégias e métodos epistemológicos é bastante comum. Entretanto, nenhuma metodologia pode captar perfeitamente o conteúdo da revelação religiosa, portanto, o uso de metodologias é limitado. A metodologia pode surgir e ser usada na teologia sob a influência conceitual de um sistema filosófico específico ou pode surgir de forma totalmente independente. O trabalho filosófico é incorporado à própria base do trabalho teológico; é muito difícil distinguir os dois. A presença da filosofia na teologia é a presença de uma certa metodologia e aparato categórico, enquanto a presença da teologia na filosofia é a presença do mito básico, da narrativa sagrada, das intuições de fé e dos axiomas super-racionais. A distinção entre teologia e filosofia é determinada pela influência diferente do contexto cultural, pelas diferentes tarefas e estratégias de desdobramento desses discursos, pelas diferentes formas de interação cultural e pela diferença de narrativas e metodologias básicas. Em conclusão, podemos afirmar a diferença qualitativa, mas também a proximidade inextricável da filosofia e da teologia, que determinam as suas interações na história da cultura.