Abstract
O presente artigo é uma discussão sobre a noção heideggeriana de Überwindung. Seu objetivo é duplo: por um lado, [1] mostrar a perspectiva que tal termo deve ser compreendido; por outro, [2] aprofundar esta perspectiva à luz de comentários ao aforismo I do texto Überwindung der Metaphysik (GA 07). Para tanto, duas questões são postas: em que perspectiva e que questões estão implícitas quando Heidegger propõe o projeto da Überwindung der Metaphysik?; e por que uma Überwindung contém em si tantos problemas? De modo a discutir e comentar tais questões, o artigo percorre dois caminhos: [1] faz-se uma análise da própria indicação heideggeriana da perspectiva de compreensão da Überwindung der Metaphysik, qual seja, revisitar, a partir de um olhar determinado, a construção da noção de história do ser. Esta, por sua vez, tem sua gênese antes mesmo da própria Kehre. Mais especificadamente, na reinterpretação que o próprio Heidegger faz de seu texto Vom Wesen der Wahrheit. A partir desta reconsideração feita por Heidegger e inserida em seu próprio texto, é possível detectar quatro teses fulcrais que traçam essencialmente a metafísica e que justificam a sua superação. São elas: [a] o fato de o ser, originariamente, se velar e provocar, historialmente, o seu esquecimento; [b] a relação entre a verdade do ser e a história, que se desenvolve como história do ser; [c] a ideia de que pertence ao ser um caráter originário de retração de si mesmo e que essa retração (a verdade do ser) é um destino que pertence à história do pensamento metafísico e se configura na própria essência da metafísica; [d] afirmar que a certeza da manifestação da essência coincide com o seu fim. [2] Adentra-se, mediante uma aproximação pari passu, no aforismo I do texto Überwindung der Metaphysik, com intuito de comentar a problematicidade do termo Überwindung quando usado para repensar a metafísica à luz da perspectiva da história do ser.