Resumo
O presente artigo objetiva, ao revisitar a obra Oratio de hominis dignitate composta pelo humanista renascentista Giovanni Pico Della Mirandola (1463-1494), um duplo intento: sustentar que as noções de dignidade e liberdade, presentes nessa obra, se distanciam do pensamento cristão tradicional, de modo crítico, justamente porque derivam de uma leitura filosófica da teologia cristã da criação; e mostrar que a conclusão a respeito da noção de liberdade apresentada por Sartre no pensamento contemporâneo pode ser encontrada de modo germinal, guardada as devidas proporções, na leitura piquiana da criação. Para tanto, exporemos uma breve retomada do contexto histórico-filosófico que permitiu ao filósofo engendrar a Oratio bem como suas pretensões para com essa obra; falaremos, em um segundo momento, como o platonismo religioso de Marsílio Ficino, principal matriz teórica a partir do qual os conceitos de dignidade e de liberdade foram modulados, foi recebido e desenvolvido no pensamento de Pico; e como as influências e as rupturas com pensamento de Ficino e a leitura filosófica da teologia cristã da criação são importantes para recolocar os conceitos de dignidade e de liberdade, permitindo assim entrever, por meio deles, semelhanças com o pensamento satreano.