Resumo
O especismo pode ser definido como a discriminação contra quem não pertence a determinada(s) espécie(s). Frequentemente, objeta-se comparar o especismo com discriminações que afetam humanos, como o racismo, o sexismo e o capacitismo. Também são frequentes as objeções à comparação entre as consequências do especismo (por exemplo, a exploração sobre os animais não humanos) com as consequências de discriminações sobre humanos (como a escravidão humana ou o holocausto). Neste artigo discuto três tipos de objeções a essas comparações: (a) a de que elas não deveriam ser feitas porque algumas pessoas poderiam se ofender com elas; (b) a de que os casos comparados não são análogos e; (c) a de que essas comparações poderiam ser contraproducentes no combate ao especismo. Defenderei que: (a) não existem boas razões para alguém se sentir ofendido com tais comparações; (b) os casos comparados são análogos e que; (c) essas comparações são essenciais não apenas para se explicar o que é o especismo, mas para combatê-lo, bem como para se combater outras formas de discriminação.
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