Resumo
O estatuto da natureza, definido pela relação dialética que estabelece com o polo humano, desempenha um papel crucial nas obras de Albert Camus, servindo como eixo central para compreender sua filosofia. Partindo dessa premissa, nosso trabalho analisa a evolução desse estatuto, identificando três momentos fundamentais interligados à sua trajetória intelectual e biográfica: (1) o período da juventude, caracterizado por uma natureza de amor desmedido, exuberante e sedutora, onde o mundo mediterrâneo emerge como fonte de êxtase e plenitude; (2) o período do absurdo, marcado por uma natureza primitiva que rejeita a lógica humana, opondo-se densa e irracionalmente à nostalgia de unidade e revelando a fratura ontológica entre homem e mundo; e (3) o período da revolta, no qual a natureza ressurge como contraponto crítico à história, oferecendo um fundamento ético para os valores da medida e da beleza. Através de uma leitura crono-temática, exploramos as imagens naturais na obra e entrelaçando-as com sua experiência vital. Buscamos revelar a coerência profunda do pensamento camusiano, onde o mundo natural opera simultaneamente como espelho da contradição humana e horizonte de reconciliação possível.
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