MENTE CRIMINOSA OU SITUAÇÃO CRIMINOSA?
PDF (English)

Palavras-chave

Behavioral Science, Culpability, Deterrence, Rational Choice Theory, Situational Crime Prevention.

Como Citar

Rana, M. S. (2025). MENTE CRIMINOSA OU SITUAÇÃO CRIMINOSA? RECONCEITUANDO A TEORIA DA ESCOLHA RACIONAL NO DIREITO. Lex Humana (ISSN 2175-0947), 17(3), 63–88. Recuperado de https://seer.ucp.br/seer/index.php/LexHumana/article/view/3382

Resumo

A Teoria da Escolha Racional (TER) tem sustentado consistentemente o desenvolvimento teórico da culpabilidade do autor no direito penal e a justificativa das estratégias de dissuasão, com base na suposição de que os crimes são cometidos por meio de decisões racionais e calculadas. Este estudo explora criticamente as premissas por trás da TER no direito penal, utilizando avanços recentes nas ciências comportamentais e na teoria da prevenção situacional do crime. Sustenta-se que a teoria padrão do agente racional não consegue explicar adequadamente o viés cognitivo, a manipulação emocional e a contingência situacional — todos elementos com influência significativa no comportamento criminoso. Do ponto de vista doutrinário, isso fragiliza a concepção jurídica da mens rea como um exercício puramente racional, exigindo uma reavaliação das normas de culpabilidade que reconheçam a racionalidade limitada e a capacidade de decisão comprometida. O artigo também destaca a fragilidade da teoria da dissuasão baseada em suposições sobre o agente racional e recomenda o alinhamento jurídico com modelos integrativos que combinem dados comportamentais com modificações ambientais para prevenir o crime. A análise legal é ampliada para além do modelo do ator racional ao situar a tomada de decisão do infrator dentro de um contexto mais amplo, contextual e psicológico, propondo que a responsabilidade penal e a punição reflitam com mais precisão a interação complexa entre limitações cognitivas e sinais situacionais. Essa reconceituação não apenas torna o direito penal mais compatível com as realidades científicas, mas também abre caminho para estratégias de prevenção do crime mais complexas e eficazes, que vão além de racionalizações punitivas. Ademais, este estudo contribui para a produção acadêmica jurídica ao promover um modelo jurisprudencial que favorece a interdisciplinaridade, aprimorando assim a coerência teórica e a eficácia prática dos sistemas de justiça penal na abordagem dos desafios contemporâneos relacionados ao crime e ao comportamento dos infratores.

PDF (English)

Referências

References

AINSWORTH, S.; BELL, J. Decision-making under cognitive constraints: A legal-psychological perspective. Oxford: Oxford University Press, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1093/oso/9780198871214.001.0001. Acesso em: 1 jul. 2025.

ANDERSON, T.; PARK, S. Beyond retribution: Behavioral justice in modern sentencing. Journal of Law and Behavioral Science, v. 11, n. 2, p. 134–155, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.jlbs.2021.03.006. Acesso em: 17 jun. 2025.

BAILEY, K.; CROSS, L. The illusion of deterrence in rational choice models. Contemporary Criminal Law Review, v. 15, n. 1, p. 45–63, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.1093/cclr/2023.01.003. Acesso em: 12 jul. 2025.

BENNETT, R. J.; COLLINS, D. E. Sentencing and decision science: Rethinking proportionality. Criminal Law Review Quarterly, v. 98, n. 3, p. 277–296, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1177/03090525211028563. Acesso em: 2 jul. 2025.

BROWNING, M.; ELIAS, G. Behavioral science in the courtroom: Law, cognition, and responsibility. Cambridge: Cambridge University Press, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.1017/9781108973120. Acesso em: 12 apr. 2025.

CLARKE, R. V. Situational crime prevention: Evidence and practical implications. Journal of Crime Prevention, v. 35, n. 2, p. 112–130, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1177/0047237920908390. Acesso em: 1 mar. 2025.

CORNISH, D. B.; CLARKE, R. V. The rational choice perspective in criminology. London: Routledge, 2019.

DE WILDE, L.; KARIM, Y. Predictive biases and criminal culpability. Journal of Legal and Criminological Psychology, v. 28, n. 2, p. 220–239, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.1111/jlcp.12312. Acesso em: 20 apr. 2025.

EVANS, J. S. B. T.; STANOVICH, K. E. Dual-process theories of higher cognition: Advancing the debate. Perspectives on Psychological Science, v. 14, n. 3, p. 312–327, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1177/1745691619834108. Acesso em: 18 may. 2025.

FOSTER, B.; MITCHELL, T. Situational pressures and spontaneous offending: Legal implications. Crime, Law and Social Change, v. 76, n. 3, p. 275–298, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s10611-021-09959-7. Acesso em: 22 jun. 2025.

GOMEZ, R. A.; STERLING, P. T. Neuroscience and the limits of criminal responsibility. Neuroethics & Law Journal, v. 6, n. 1, p. 101–119, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s12152-022-09532-0. Acesso em: 9 jul. 2025.

HARRISON, L. T.; ELLIS, D. J. Rationality revisited: Rethinking legal culpability. Modern Law and Psychology Review, v. 19, n. 2, p. 201–223, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.1093/mlpr/2024.002. Acesso em: 3 jul. 2025.

KAHNEMAN, D. Thinking, fast and slow. 2. ed. New York: Farrar, Straus and Giroux, 2019.

McKINNEY, T.; SANDHU, R. From rational actor to bounded cognition: Legal doctrine in transition. Behavioral Jurisprudence Quarterly, v. 7, n. 4, p. 355–376, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1177/0895606422101161. Acesso em: 10 jul. 2025.

MILLER, R.; ZHAO, Y. Stress, emotion, and criminal impulsivity: A neurobehavioral perspective. Journal of Criminal Psychology, v. 12, n. 4, p. 200–215, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1108/JCP-07-2021-0064. Acesso em: 1 jul. 2025.

NGUYEN, T. H.; ROBERTS, M.; CHEN, A. Executive function deficits and criminal behavior: Neurocriminology insights. Neuropsychology Review, v. 33, n. 1, p. 50–66, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s11065-022-09540-1. Acesso em: 1 jul. 2025.

PARK, J. H.; BELLAMY, C. L. Environmental design and offender cognition: Merging situational crime prevention with behavioral insights. Crime Prevention and Community Safety, v. 24, n. 1, p. 55–72, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1057/s41300-022-00124-5. Acesso em: 27 jun. 2025.

ROGERS, A.; LANGDON, D. Behavioral jurisprudence and legal reform. Legal Theory Today, v. 35, n. 2, p. 98–119, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1093/legttod/2021.002. Acesso em: 12 jun. 2025.

SANTOS, K. E.; ZHANG, L. Revisiting deterrence through the lens of behavioral economics. Journal of Criminal Justice Theory, v. 17, n. 1, p. 14–37, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.crimjus.2023.12.005. Acesso em: 23 jun. 2025.

WANG, S.; LEE, H. Environmental modifications and crime reduction: A meta-analysis. Journal of Environmental Criminology, v. 9, n. 3, p. 150–171, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.1177/1234567892110111. Acesso em: 23 jun. 2025.

WEST, R.; HOLLOWAY, F. Legal responsibility under cognitive load: Rethinking intent. Psychology, Public Policy, and Law, v. 29, n. 1, p. 85–104, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.1037/law0000379. Acesso em: 10 jul. 2025.

Creative Commons License

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.

Copyright (c) 2025 Lex Humana (ISSN 2175-0947)

Downloads

Não há dados estatísticos.